Burnout: Um novo olhar da OMS e as implicações para a economia e as empresas

Desde 1º de janeiro de 2025, o burnout é oficialmente reconhecido na Classificação Internacional de Doenças (CID-11) como um fenômeno relacionado ao trabalho. Essa atualização da Organização Mundial da Saúde (OMS) vai além de um ajuste técnico: é uma mudança que impacta diretamente a forma como as organizações e a economia lidam com a saúde mental no ambiente corporativo.

Por Ana Carolina Peuker

Por que o burnout é um problema econômico?

O burnout afeta diretamente a produtividade, aumenta o absenteísmo e eleva os custos com saúde e turnover. Segundo estudos globais, problemas de saúde mental, incluindo o burnout, custam cerca de US$ 1 trilhão por ano em perda de produtividade. No Brasil, os afastamentos relacionados ao esgotamento profissional estão entre as principais causas de licenças concedidas pelo INSS, onerando empresas e sistemas públicos de saúde.

Agora, com a nova classificação, o burnout passa a ser entendido de forma mais precisa, facilitando diagnósticos e intervenções. Para as empresas, isso significa a necessidade de implementar ações que não só atendam às exigências legais, mas que também protejam seus resultados financeiros.

O que muda com a CID-11?

A nova classificação define o burnout como uma síndrome exclusiva do contexto ocupacional, caracterizada por:

  • Exaustão extrema – desgaste físico e mental devido ao trabalho.
  • Cinismo ou distanciamento – desengajamento emocional em relação às atividades profissionais.
  • Redução da eficácia – percepção de baixa realização no trabalho.

Diferentemente de outros transtornos de saúde mental, o burnout está diretamente ligado à gestão do ambiente de trabalho, colocando as empresas no centro da discussão sobre prevenção e mitigação.

O impacto financeiro de ignorar o problema

Empresas que não investem em prevenção enfrentam custos ocultos significativos:

  • Redução de produtividade: trabalhadores esgotados entregam menos e cometem mais erros.
  • Turnover elevado: o desgaste leva à saída de talentos, gerando custos de recrutamento e treinamento.
  • Aumento de absenteísmo: afastamentos por burnout são prolongados e custosos.
  • Imagem corporativa prejudicada: organizações que negligenciam a saúde mental enfrentam dificuldades em atrair e reter profissionais.

Além disso, com a entrada em vigor da CID-11, diagnósticos mais claros podem levar a um aumento de ações trabalhistas relacionadas a ambientes insalubres.

Investir em saúde mental é estratégico

A boa notícia é que prevenir o burnout não é apenas uma questão ética, mas um investimento com alto retorno financeiro. Estudos mostram que, para cada dólar investido em saúde mental no trabalho, há um retorno de quatro dólares em produtividade, redução de absenteísmo e retenção de talentos.

O que as empresas podem fazer?

  • Mapear riscos psicossociais: identificar fatores de estresse no ambiente de trabalho, como cargas excessivas, falta de autonomia e má comunicação.
  • Apoiar a desconexão digital: promover políticas que limitem a hiperconectividade e protejam os trabalhadores fora do horário de expediente.
  • Treinar lideranças: capacitar gestores para identificar sinais de burnout e criar ambientes mais equilibrados.
  • Oferecer suporte emocional: implementar programas de apoio psicológico e práticas como coaching e mentoring.
  • Revisar processos organizacionais: garantir clareza de papéis, metas realistas e reconhecimento adequado.

A mudança é urgente

Com a nova classificação do burnout, empresas que não adotarem medidas proativas correm o risco de ver o problema se refletir nos seus balanços financeiros e na competitividade de mercado. Em um momento em que saúde mental e sustentabilidade humana são prioridades globais, criar ambientes saudáveis deixou de ser opcional e passou a ser uma vantagem estratégica.

Gerir o burnout não é só evitar prejuízos – é garantir que as organizações tenham sucesso em um mercado cada vez mais consciente e exigente.

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