Cérebro em modo avião: o que o “brain rot” revela sobre saúde mental na era digital

O termo brain rot não nasceu na ciência, mas se popularizou nas redes sociais como forma de nomear uma sensação cada vez mais comum: a mente exausta, entorpecida por estímulos digitais incessantes. Ainda que informal, a expressão dá voz a uma experiência real e cada vez mais frequente de sobrecarga cognitiva e emocional que mistura […]

Por Ana Carolina Peuker

O termo brain rot não nasceu na ciência, mas se popularizou nas redes sociais como forma de nomear uma sensação cada vez mais comum: a mente exausta, entorpecida por estímulos digitais incessantes. Ainda que informal, a expressão dá voz a uma experiência real e cada vez mais frequente de sobrecarga cognitiva e emocional que mistura fadiga, distração constante, irritabilidade, ansiedade e dificuldade de concentração.

Esse esgotamento não é causado apenas por jornadas longas ou pressões profissionais. O que está em jogo é o acúmulo invisível de estímulos que nunca cessam: notificações, vídeos curtos, algoritmos que nos mantêm presos em ciclos de rolagem infinita, conteúdo fragmentado e repetitivo. O cérebro, que evoluiu para processar informações em ciclos, com pausas e variações, agora é submetido a um fluxo contínuo e imprevisível de dados.

No contexto do varejo, essa realidade ganha contornos ainda mais delicados. São ambientes que demandam atenção constante, interações humanas intensas, decisões rápidas e múltiplas trocas de tarefa. A isso se soma a hiperconexão fora do trabalho, que muitas vezes ocupa os momentos destinados ao descanso. O resultado? Um corpo que sai da loja, mas uma mente que segue ativa, sem descanso verdadeiro.

Pausar não é apenas parar o corpo

A pausa efetiva não é simplesmente a ausência de trabalho. É a criação de um espaço mental de recuperação. Trocar uma tarefa por uma rolagem infinita de vídeos ou redes sociais não permite que o cérebro se reorganize. Pelo contrário, prolonga a estimulação e dificulta o retorno ao foco e à clareza. O descanso digital, aquele que suspende temporariamente o consumo de conteúdo, tornou-se uma necessidade de higiene mental.

Mais do que culpar o ambiente de trabalho ou a tecnologia, o desafio atual é educar para o autocuidado em um cenário onde até o lazer foi capturado por telas. É preciso reaprender a parar de verdade, desconectar sem culpa e sem fuga, criar rotinas de recuperação que não dependam apenas de feriados ou férias.

Brain rot: não é uma fase, é um sinal

Do ponto de vista neurobiológico, o excesso contínuo de estímulo pode afetar áreas relacionadas à atenção, memória e tomada de decisão. Estudos já apontam a associação entre uso compulsivo de tecnologia e aumento de sintomas como ansiedade, insônia, baixa tolerância à frustração e menor engajamento emocional.

Isso não significa que a tecnologia seja o problema, mas que seu uso precisa ser mais consciente, especialmente, em contextos de alta exigência como o varejo. A mente precisa de pausas reais para que o corpo recupere energia e para que a presença volte a ser possível.

Desconectar também é estratégia

Em um tempo em que tudo é veloz, lembrar que o cuidado mental exige ritmo, silêncio e limites é um ato de inteligência. Promover saúde no trabalho não é apenas garantir segurança física ou prevenir afastamentos. É ensinar as pessoas a reconhecer sinais precoces de esgotamento e a valorizar pausas como parte da produtividade sustentável.

Comece simples:

  • Troque o celular por uma caminhada curta durante o intervalo;
  • Evite usar o aparelho nos primeiros e últimos 30 minutos do dia;
  • Compartilhe com colegas hábitos que ajudam você a recuperar foco, isso normaliza a cultura de cuidado;
  • No fim de semana, experimente desconectar-se por algumas horas e observar como o corpo e a mente reagem.

Como sociedade, ainda subestimamos o custo do estímulo contínuo. Em ambientes profissionais, isso já se traduz em perda de atenção, falhas operacionais e menor qualidade de presença. Por isso, desconectar-se, mesmo que por breves momentos, não é luxo. É parte do cuidado que sustenta a saúde mental no tempo em que vivemos.

Veja mais

NR-01 e os Riscos Psicossociais

NR-1 e os riscos psicossociais: como usar o prazo até 2026 a favor da sua empresa

Com a entrada em vigor da atualização da NR-1 (Norma Regulamentadora nº 1), com implementação adiada para maio de 2026, muitas empresas podem entender que ganharam um tempo de espera. Na prática, é o contrário: esse intervalo é uma janela estratégica para se prepararem com qualidade, responsabilidade e visão de futuro. Não se trata de […]