Conselhos eficazes… em temas do passado

A pesquisa Board Effectiveness: A Survey of the C-Suite (PwC, 2024) revela uma contradição que precisa ser enfrentada. Conselhos seguem bem avaliados por sua atuação em áreas clássicas, estratégia, finanças e remuneração, porém mostram fragilidade nos temas que hoje definem a relevância e a resiliência das empresas. Executivos são enfáticos: Essa discrepância evidencia uma lacuna […]

Por Ana Carolina Peuker

A pesquisa Board Effectiveness: A Survey of the C-Suite (PwC, 2024) revela uma contradição que precisa ser enfrentada. Conselhos seguem bem avaliados por sua atuação em áreas clássicas, estratégia, finanças e remuneração, porém mostram fragilidade nos temas que hoje definem a relevância e a resiliência das empresas.

Executivos são enfáticos:

  • 79% apontam que ESG não recebe a devida atenção no conselho;
  • 58% indicam o mesmo m relação à inteligência artificial e tecnologias emergentes;
  • Apenas 64% acreditam que o board compreende bem cultura e gestão de pessoas, embora 93% dos conselheiros avaliem que sim.

Essa discrepância evidencia uma lacuna estratégica. O conselho ainda é eficaz para o que já passou, mas pouco responsivo ao que já está em curso. E essa limitação compromete não só decisões de negócio, como também a capacidade de antecipar e mitigar riscos que afetam diretamente a saúde organizacional.

A gestão de fatores de riscos psicossociais é um desses pontos cegos. Fatores como sobrecarga, insegurança relacional, perda de autonomia e desgaste emocional não são temas aubjacentes. Eles impactam desempenho, absenteísmo, clima e reputação. Estão documentados por organismos internacionais, como a ISO 45003, a OCDE, a Organização Internacional do Trabalho e a ONU e vêm sendo incorporados de forma crescente à regulação nacional.

A nova Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que entra em vigor em maio de 2026, exigirá das empresas uma abordagem formal sobre todos os riscos ocupacionais, inclusive os psicossociais. Isso muda o patamar da responsabilidade dos conselhos. Ignorar esses fatores não será apenas uma falha estratégica, mas também um risco jurídico e reputacional.

Apesar desse cenário, os dados mostram que 92% dos executivos defendem substituições no conselho, e quase metade percebe conselheiros despreparados ou pouco engajados. Isso reflete o desgaste causado por uma governança que não acompanha a velocidade das transformações nem reconhece os impactos humanos de suas omissões.

Falar em saúde mental no trabalho não diz respeito apenas a programas internos. Significa revisar prioridades, incluir variáveis humanas na matriz de risco e alinhar a alta liderança com as obrigações que já estão no horizonte. A saúde de uma organização está diretamente relacionada à maturidade de sua governança e o tempo para ajustar essa rota é agora.

Referência: https://www.pwc.com/us/en/services/governance-insights-center/library/2025-board-effectiveness-survey.html

Veja mais

A escuta digital e o novo papel da IA nas conversas sobre sofrimento humano

A recente divulgação feita pela OpenAI marca um ponto de virada no debate sobre inteligência artificial e saúde mental. Segundo os dados, cerca de 1,2 milhão de pessoas por semana conversam com o ChatGPT sobre planos de suicídio, e outras 560 mil apresentam sinais compatíveis com psicose ou mania. À primeira vista, os números parecem […]

O capital social que estamos queimando

Quando Satya Nadella disse, em uma entrevista ao The New York Times em 2023, “What does burnout look like? What does mental health look like? Maybe we are burning some of the social capital we built up…”, ele não falava apenas sobre exaustão. Estava apontando para um risco silencioso dentro das organizações: a perda do […]

NR-1: por que 2025 é o ano decisivo para a sua empresa

A prorrogação da entrada em vigor da NR-1 para maio de 2026 trouxe certo alívio às empresas, mas o prazo adicional não significa tempo livre. Quem adiar providências para o próximo ano enfrentará riscos jurídicos, financeiros e humanos que poderiam ser evitados com planejamento antecipado. A norma inaugura uma nova fase da saúde e segurança […]