FOMO, FOMA e a sobrecarga de informações no SXSW: Um relato em primeira pessoa

O South by Southwest (SXSW) é uma avalanche de ideias, tendências e debates que moldam o futuro da tecnologia, cultura e inovação. Para quem busca se atualizar e estar à frente das transformações do mundo, estar lá é um privilégio – e também um desafio.

Por Ana Carolina Peuker

A sensação de que algo importante pode estar acontecendo o tempo todo, em algum outro palco, ao mesmo tempo que tentamos absorver as informações do momento presente, é real. Foi exatamente isso que senti e que Amy Webb trouxe ao falar sobre FOMO e FOMA no evento.

FOMO (Fear of Missing Out) já é um termo bem conhecido. Ele descreve aquele medo de estar perdendo algo importante, de não estar onde deveria estar, de não aproveitar ao máximo todas as oportunidades possíveis. No contexto do SXSW, essa sensação é praticamente inevitável. Com centenas de palestras simultâneas e a presença de mentes brilhantes discutindo desde inteligência artificial até o impacto das mudanças climáticas, qualquer escolha significa abrir mão de outras igualmente valiosas.

Amy Webb (na foto comigo minutos antes de sua palestra no SXSW 25) trouxe um conceito que amplia essa discussão: FOMA (Fear of Missing Anything). Se o FOMO está ligado a perder experiências específicas, o FOMA é mais profundo – é o receio de não conseguir absorver tudo o que está disponível, de deixar escapar informações, conexões e perspectivas que poderiam fazer a diferença. É a ansiedade de não dar conta de acompanhar o ritmo acelerado das inovações e debates que moldam o futuro. Essa sensação me atravessou enquanto eu estava lá.

Amy Webb (na foto comigo minutos antes de sua palestra no SXSW 25)

Esse sentimento ficou ainda mais evidente ao acompanhar a apresentação de Amy Webb, uma das maiores referências em futurismo e análise de tendências. Sua palestra foi um verdadeiro mergulho em dados, previsões e padrões que desenham o futuro da tecnologia e dos negócios. Mas a grande questão não é apenas absorver tudo o que está sendo exposto – isso é impossível. O desafio real é saber o que fazer com essa quantidade de informações.

O SXSW não é um evento para se consumir passivamente. Ele exige um olhar crítico e estratégico para conectar ideias que, à primeira vista, podem parecer isoladas. O segredo não está em tentar capturar tudo, mas em criar relações entre os diferentes conteúdos absorvidos. Em vez de buscar apenas mais informações, o foco precisa estar em gerar significado a partir do que foi visto e ouvido.

Para tornar essa curadoria mais eficiente, algumas estratégias podem ajudar. Uma abordagem útil é registrar as ideias mais marcantes e, ao final do evento, revisá-las buscando padrões, conexões inesperadas e aplicações práticas. Outra maneira de filtrar o excesso de informação é adotar perguntas norteadoras: “Como isso pode impactar minha área?”, “De que forma esse conceito se relaciona com desafios que o mundo enfrenta?” e “O que posso testar na prática a partir disso?”

A inovação acontece quando conseguimos estabelecer “pontes” entre temas que, à primeira vista, não parecem relacionados. Não se trata apenas de coletar dados, mas de processá-los e integrá-los de forma criativa. No fim, o que realmente importa não é a quantidade de palestras assistidas, mas a capacidade de transformar esse conhecimento em algo relevante e aplicável.

O que me marcou nesse SXSW25 foi perceber que curadoria não significa simplesmente escolher o que consumir, mas sim organizar e conectar o que foi e ainda será absorvido. O FOMO pode ser inevitável, e o FOMA pode ser real, mas ambos nos lembram que a informação só tem valor quando conseguimos dar sentido a ela. A inovação não está no acúmulo, mas na capacidade de “ligar” os pontos certos.

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