NR-1, ESG e o risco invisível: O que as empresas não veem, mas pagam caro

Outro dia, durante um evento sobre governança corporativa, um CEO me abordou com aquela pergunta clássica: — “Mas essa tal de NR-1 realmente importa? Nunca ouvi um investidor perguntar sobre isso…”

Por Ana Carolina Peuker

Dei um sorriso contido. Há perguntas que revelam mais sobre o mercado do que sobre a norma em si. A resposta curta? Sim, importa muito.

A resposta longa envolve uma história sobre riscos invisíveis, ESG e a crescente vigilância global sobre o que acontece dentro das empresas — especialmente com quem trabalha nelas.

Vamos falar sobre riscos. Não aqueles óbvios, como incêndios, máquinas sem manutenção ou produtos vencidos, mas os riscos invisíveis que corroem a produtividade, afetam a reputação e, em alguns casos, arruinam carreiras corporativas.

O que acontece quando um trabalhador adoece por más condições de trabalho? Quando afastamentos aumentam, passivos trabalhistas disparam e, do outro lado, investidores começam a questionar os índices de turnover e compliance?

Esses são os efeitos silenciosos da negligência com normas como a NR-1, que estabelece diretrizes para o Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO) e o Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR).

E é aí que ESG entra na conversa. ESG não é só sobre floresta e carbono — é sobre pessoas também!

Nos últimos anos, as empresas passaram a correr para adotar práticas sustentáveis, criando metas para redução de carbono, reciclagem e governança climática. Tudo ótimo, mas o ESG tem três letras, e a do meio – S de Social – segue como a menos entendida e aplicada. De acordo com um estudo da Sustainalytics, empresas que investem em boas práticas de governança e gestão de pessoas apresentam menor volatilidade em suas ações e melhor atração de capital sustentável.

Por outro lado, relatórios da Thomson Reuters revelam que mais de 95% das grandes empresas globais já divulgam indicadores ESG, e os investidores estão cada vez mais atentos a riscos trabalhistas e sociais nas companhias que financiam. Ou seja, gestão de riscos ocupacionais não é um detalhe técnico, mas um pilar fundamental da governança moderna.

Empresas que implementam gestão estruturada de riscos ocupacionais reduzem em até 30% os afastamentos por doenças relacionadas ao trabalho. O custo médio de um passivo trabalhista no Brasil por exposição a riscos ocupacionais pode ultrapassar R$ 500 mil por colaborador. Investidores institucionais já incluem indicadores de segurança e saúde em suas análises de risco antes de alocar capital.

E agora vem a pergunta: quanto custa ignorar a NR-1?

Se você é CEO, CFO ou gestor de alto nível e nunca ouviu falar dessa norma, não significa que o problema não exista — apenas que você ainda não sentiu o impacto dele. Conformidade com a NR-1 não precisa ser uma dor de cabeça. Ferramentas modernas permitem uma abordagem estratégica e digitalizada para a gestão de riscos psicossociais e ocupacionais. Mas, mais do que isso, aderir à NR-1 significa antecipar-se aos problemas invisíveis. Não porque a lei exige, mas porque o mercado recompensa quem faz isso bem.
Então, se ainda restar dúvida, deixo aqui outra pergunta: seus investidores sabem como sua empresa protege a saúde mental de seus trabalhadores? Se não sabem, talvez seja hora de começar essa conversa.

E você, como enxerga a relação entre NR-1, ESG e governança?

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