O futuro do trabalho e a saúde mental no ambiente laboral

A transformação do mercado de trabalho global até 2030 será impulsionada por mudanças tecnológicas, fragmentação geoeconômica, incertezas econômicas, transição verde e mudanças demográficas, segundo o relatório “Future of Jobs 2025” do Fórum Econômico Mundial. Esses fatores moldarão o cenário de empregos e habilidades, gerando tanto oportunidades quanto desafios, especialmente em relação à saúde mental no trabalho.

Por Ana Carolina Peuker

Mudanças tecnológicas e o Impacto na saúde mental

Com a adoção acelerada de tecnologias como inteligência artificial (IA), big data e automação, mais de 60% das empresas acreditam que essas tendências transformarão seus negócios até 2030. Embora essas inovações tragam eficiência, também provocam incertezas que impactam diretamente a saúde mental dos trabalhadores:

  • Pressão por Atualização Constante: Com 39% das habilidades atuais dos trabalhadores esperadas para se tornarem obsoletas, a necessidade de reskilling (requalificação) pode gerar ansiedade e estresse;
  • Demandas por alta performance: A busca por profissionais com habilidades tecnológicas avançadas, como IA e cibersegurança, aumenta a competição, resultando em desgaste emocional;
  • Automação e Insegurança no emprego: A automação pode substituir cerca de 8% dos empregos atuais, levando à preocupação com estabilidade financeira.

Esses fatores reforçam a importância de investir em iniciativas de bem-estar para mitigar os efeitos psicológicos dessas mudanças.

Incertezas econômicas e resiliência no trabalho

As condições econômicas, como o aumento do custo de vida e o crescimento desacelerado, são destacadas como as segundas tendências mais transformadoras. Essas mudanças impulsionam a demanda por habilidades como resiliência, flexibilidade e agilidade, fundamentais para enfrentar o estresse e a pressão no ambiente de trabalho.

Organizações que adotam estratégias de apoio à saúde mental, como programas de mindfulness e suporte psicológico, aumentam sua capacidade de atrair e reter talentos em meio a incertezas econômicas.

Transição verde e o papel da saúde mental

A transição para uma economia verde, com foco na mitigação das mudanças climáticas, cria novas oportunidades de emprego em áreas como energia renovável e engenharia ambiental. No entanto, o foco crescente na sustentabilidade também apresenta desafios:

  • Cultura de alta responsabilidade: Profissionais envolvidos na transição verde lidam com a pressão de atender expectativas éticas e ambientais, aumentando o risco de burnout;
  • Demandas de requalificação: Adaptações às exigências de sustentabilidade exigem requalificação de trabalhadores, o que pode gerar ansiedade sobre a capacidade de acompanhar mudanças.

Empresas que promovem uma cultura de bem-estar e oferecem suporte emocional durante essas transições ajudam a reduzir esses impactos.

Mudanças demográficas e saúde no trabalho

O envelhecimento da força de trabalho em economias desenvolvidas e o crescimento da população economicamente ativa em países em desenvolvimento também afetam a saúde mental no trabalho. O aumento de profissões na área da saúde e da educação reflete a necessidade de habilidades como motivação, autoconsciência e empatia.

Essas mudanças reforçam a importância de criar políticas inclusivas, voltadas para o apoio à saúde mental e ao bem-estar de uma força de trabalho diversa.

Habilidades humanas como fator de proteção

O relatório destaca habilidades como pensamento analítico, criatividade, resiliência, flexibilidade e liderança como essenciais para o futuro do trabalho. Essas habilidades não apenas aumentam a produtividade, mas também funcionam como ferramentas de proteção à saúde mental, ajudando os trabalhadores a lidar com as mudanças constantes e incertezas.

Empregadores que priorizam iniciativas de desenvolvimento humano, como treinamento em inteligência emocional e liderança empática, criam ambientes de trabalho mais saudáveis e preparados para enfrentar os desafios futuros.

O papel dos empregadores na saúde mental

Entre as estratégias mais citadas no relatório, 64% dos empregadores identificam o apoio à saúde e ao bem-estar como uma prioridade para atrair e reter talentos. Além disso, iniciativas de diversidade, equidade e inclusão continuam em alta, reforçando a necessidade de criar ambientes psicologicamente seguros para todos.

Os dados mostram que empresas que investem em bem-estar:

  1. Reduzem os custos com absenteísmo e presenteísmo;
  2. Aumentam a produtividade e o engajamento;
  3. Criam um diferencial competitivo no mercado de trabalho.

Conclusão

O futuro do trabalho trará desafios significativos, mas também oportunidades para transformar o ambiente laboral em um espaço mais saudável e humano. Tecnologias avançadas, mudanças econômicas e a transição verde moldarão o mercado, mas será a capacidade de cuidar da saúde mental dos trabalhadores que definirá o sucesso das organizações.

Empresas que equilibram inovação com práticas de bem-estar estarão mais bem preparadas para navegar nesse cenário de transformações e atrair talentos comprometidos e com maior capacidade de se adaptar à mudanças.

Fonte: https://reports.weforum.org/docs/WEF_Future_of_Jobs_Report_2025.pdf

Veja mais

Segurança psicossocial: de ação pontual à capacidade organizacional continua

Nos últimos anos, o tema da segurança psicossocial tem ganhado espaço nas discussões sobre trabalho e saúde mental. Mas ainda é comum ver empresas tratando o assunto como um projeto pontual: uma palestra no Setembro Amarelo, uma campanha de engajamento ou uma pesquisa de bem-estar com visual renovado. Essas ações podem ter um efeito simbólico […]

Bem-estar passa a ocupar o centro das estratégias organizacionais

A transformação do mundo do trabalho leva as organizações a repensar prioridades, colocando a saúde mental e o bem-estar humano no epicentro de suas agendas estratégicas. Conforme apresentado no painel “Saúde mental e bem-estar: Valor estratégico para organizações”, promovido pelo Tecnopuc durante o evento Tecnopuc Experience, é cada vez mais claro que a produtividade — […]

A escuta digital e o novo papel da IA nas conversas sobre sofrimento humano

A recente divulgação feita pela OpenAI marca um ponto de virada no debate sobre inteligência artificial e saúde mental. Segundo os dados, cerca de 1,2 milhão de pessoas por semana conversam com o ChatGPT sobre planos de suicídio, e outras 560 mil apresentam sinais compatíveis com psicose ou mania. À primeira vista, os números parecem […]