O que a crise da Super Retail ensina sobre reputação, cultura e saúde emocional no varejo

O varejo é muito mais do que venda. É também reputação, experiência e a gestão de equipes que lidam com pressão constante. Quando uma cultura organizacional falha, o dano à marca não demora a aparecer. A Super Retail Group, uma das maiores varejistas da Austrália, tornou-se centro de um escândalo em 2025 após denúncias feitas […]

Por Ana Carolina Peuker

O varejo é muito mais do que venda. É também reputação, experiência e a gestão de equipes que lidam com pressão constante. Quando uma cultura organizacional falha, o dano à marca não demora a aparecer. A Super Retail Group, uma das maiores varejistas da Austrália, tornou-se centro de um escândalo em 2025 após denúncias feitas por ex-funcionárias.

O caso envolve alegações de assédio moral, uso indevido de recursos, falta de segurança psicológica e favorecimento em cargos de liderança. O que começou como ruído interno chegou ao noticiário com potencial de impacto milionário. A própria empresa informou que esperava ações judiciais entre 30 e 50 milhões de dólares australianos.

O episódio trouxe à tona um padrão recorrente: situações de abuso e insegurança no ambiente de trabalho não começam no RH nem na imprensa. Começam em interações diárias, decisões de liderança e sinais ignorados por tempo demais. A cultura organizacional sempre dá sinais. Quando não há escuta qualificada, eles se acumulam até se tornarem crise.

Nas experiências que temos com o setor de varejo na Bee Touch, por meio da plataforma AVAX, é possível detectar padrões antes que se tornem danos. Dados como aumento de estresse entre lideranças intermediárias, queda na sensação de pertencimento ou baixa confiança entre áreas são alertas claros de que algo precisa ser ajustado. Esses dados não aparecem em relatórios financeiros, embora tenham relação direta com eles.

Um ambiente emocionalmente inseguro não se sustenta em setores com alta exposição ao público. No varejo, onde a equipe representa a marca em tempo real, desgaste interno afeta diretamente o cliente. Colaboradores que não se sentem respeitados ou escutados tendem a reproduzir esse padrão em suas relações com colegas e consumidores. A consequência é queda de desempenho, rotatividade elevada e aumento de conflitos.

A leitura estratégica desses dados exige maturidade institucional. Ações pontuais de bem-estar não são suficientes quando o problema está na estrutura da cultura. O caso da Super Retail mostrou isso com clareza. O alerta não é sobre um caso isolado, mas sobre a importância de medir com método o que está acontecendo dentro das equipes.

Empresas que incorporam esse tipo de monitoramento em sua governança se antecipam a riscos legais e reputacionais. Mais do que proteger a imagem, cuidam de quem sustenta a operação no dia a dia. A pergunta-chave para líderes do varejo segue atual: o que sua empresa está escutando antes que virem manchete?

Quem quiser conhecer como transformamos dados sobre fatores de riscos psicossociais em decisões estratégicas, pode se aprofundar nos cases da AVAX.

Leia a matéria original na Australian Financial Review

https://www.afr.com/companies/retail/super-retail-says-whistleblower-lawyer-threatened-over-media-coverage-20250627-p5mato

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