O capital social que estamos queimando

Quando Satya Nadella disse, em uma entrevista ao The New York Times em 2023, “What does burnout look like? What does mental health look like? Maybe we are burning some of the social capital we built up…”, ele não falava apenas sobre exaustão. Estava apontando para um risco silencioso dentro das organizações: a perda do […]

Por Ana Carolina Peuker

Quando Satya Nadella disse, em uma entrevista ao The New York Times em 2023, “What does burnout look like? What does mental health look like? Maybe we are burning some of the social capital we built up…”, ele não falava apenas sobre exaustão. Estava apontando para um risco silencioso dentro das organizações: a perda do que nos mantém humanos no trabalho.

O capital social de que ele fala não aparece em relatórios financeiros, mas é o que sustenta a confiança, o pertencimento e a cooperação entre as pessoas. São esses vínculos que tornam possível inovar, compartilhar conhecimento e enfrentar incertezas juntos. Quando o trabalho se reduz a metas e entregas, esse capital começa a se consumir lentamente, até que o ambiente se torna eficiente, porém emocionalmente empobrecido.

O burnout, nesse cenário, deixa de ser um problema individual e passa a ser um sintoma coletivo. Ele mostra que o modelo de produtividade vigente cobra mais do que o corpo e a mente podem oferecer, minando a estrutura emocional das equipes e corroendo o senso de propósito.

O alerta de Nadella é um convite à reflexão sobre o tipo de progresso que estamos perseguindo. Talvez estejamos queimando o que levamos anos para construir: a confiança, a empatia e a energia relacional que sustentam qualquer organização viva. Cuidar das pessoas é, antes de tudo, uma escolha estratégica. É o que garante que o futuro do trabalho continue sendo, acima de tudo, humano.

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